Chega aos cinemas esta semana o épico “O Regresso”,
grande concorrente ao Oscar deste ano com nada menos que 12 indicações,
incluindo Melhor Filme, Ator, Ator Coadjuvante e Diretor. O filme é conduzido
pelo maestro mexicano Alejandro G. Iñárritu, que no ano passado levou as
estatuetas de Direção, Roteiro e Filme pela comédia satírica “Birdman”.
Estrelado por Leonardo DiCaprio e Tom Hardy, a produção é um suspense de
vingança executado com perfeição técnica completamente deslumbrante.
No decorrer de seus 156 minutos de duração, o filme
compreende uma jornada de superação e sobrevivência ancorada no talento e
comprometimento de DiCaprio (que grita por um Oscar). Sua entrega ao personagem
é completa e admirável, posto que poucas vezes vi um ator sofrer tanto por sua
arte. Considere que além da exposição às severas condições de filmagem (nas
baixas temperaturas do Canadá e da Argentina) que se limitavam a uma hora de
exposição da luz do sol por dia, DiCaprio ainda abraçou desafios que incluíram:
devorar um pedaço cru do fígado de um bisão, mesmo sendo vegetariano, e aprender
duas línguas indígenas diferentes (Arikara e Pawnee).
Adaptado do romance baseado em fatos reais de Michael
Punke, publicado em 2002, “O Regresso” conta a história de Hugh Glass, que, nos
idos de 1820, trabalhava em uma expedição para extrair peles de animais em
terrenos inóspitos, de natureza agressiva, e ainda, cercado de nativos americanos
hostis além de uma concorrência nada amigável de uma guarnição francesa.
Acompanhado de seu filho mestiço, Glass serve ao batalhão mas, antes de mais
nada, zela por sua prole. Entretanto, após ser atacado por um urso (em uma cena
impressionantemente realista) e perder seu único filho, Glass é abandonado à própria
sorte, gravemente ferido e sem nenhum recurso de sobrevivência. Daí começa sua
jornada de sobrevivência motivada exclusivamente pela vingança contra
Fitzgerald (Tom Hardy), o homem responsável pelo seu infortúnio.
Fitzgerald é um antagonista óbvio visto que tudo no
roteiro contribui para que o público desenvolva uma ogeriza ao personagem. Um
fato que depõe contra o filme num todo, visto que acaba caindo em arquétipos pré-estabelecidos
onde todos torcemos para um desfecho previsível de bem contra o mal. Talvez
essa construção e desenvolvimento de personagem, tanto de Hardy quanto de
DiCaprio, sejam as coisas mais rasas da produção. O que certamente não desmerece a obra.
“O Regresso” é um banquete visual, uma experiência
estética e sensorial. A fotografia poderosa de Emmanuel Lubezki é
impressionante e incrivelmente bela. Pode-ser traçar paralelos com outro
cineasta também famoso pela contemplação da natureza – Terrence Malik. Logo na
início do filme, onde acontece o ataque Arikara ao acampamento de Glass e seus
companheiros, somos brindados com cenas de takes longos e contínuos, uma das
assinaturas de Iñárritu, que eleva a sensação de tensão e crueza física.
Se em “O Náufrago”, Tom Hanks tinha sua afetuosa interação
com a bola Wilson e em “Perdido em Marte”, Matt Damon tinha um personagem
extremamente carismático e otimista, em “O Regressa”, Leonardo DiCaprio tem
apenas a determinação expressada através de suspiros de dor e grunhidos
abafados pelos ferimentos na garganta para sustentar sua atuação durante boa
parte do filme. E ainda assim ele e Iñarritu conseguem conceber uma narrativa
que entretem e emociona num desfecho quase catártico. E nesta boa fase de
Inãrritu é de se esperar que mais coisas boas virão no futuro.
Veja o trailer aqui:
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