
“A Garota Dinamarquesa” é adaptação para o cinema
baseada na obra de mesmo nome do autor David Ebershoff. A história é
centrada na vida do pintor Einar Wegener que foi um dos primeiros transsexuais
a se submeter a uma operação de mudança de sexo. Ícone do movimento LGBT até
hoje, sua trajetória chega as telonas com o brilho da interpretação de Eddie
Redmayne (“A Teoria do Tudo”) acompanhado da igualmente talentosa Alicia
Vikander, que interpreta sua esposa, Gerda. O filme está concorrendo ao Oscar
desse ano em quatro categorias (Ator, Atriz Coadjuvante, Design de Produção e Figurino).
Eddie Redmayne é um homem cuja imagem andrógina tornou
oportuna a sua escalação para o papel de Lili. Seu corpo lânguido e rosto
pálido, de traços finos e delicados, configuram uma moldura perfeita para o que
o physique du rôle exige neste filme. Esse dado – a escalação
de um homem para o papel – é particulamente um grande acerto. Sem querer
desmerecer mulheres que já interpretaram homens que se tornam mulheres, como
Felicity Huffman em “Transamérica”, por exemplo, que esteve brilhante. Mas, o
biotipo de Redmayne e sua habilidade de mimetizar com elegância os trejeitos
femininos em um crescente aprendizado é uma das coisas mais interessantes da
película.
Mas a história não se resume apenas a transição
submetida por Einar. Muito mais que isso, o filme é, na verdade, uma bela
narrativa sobre o amor verdadeiro entre duas pessoas que permanecem fiéis até o
fim. Gerda, vivida lindamente pela talentosa atriz sueca Alicia Vikander (“Ex
Machina”), teve que lidar com o fato de que seu marido deseja se tornar uma
mulher integramente, incluindo seu corpo. Numa época (década de 20) em que
homossexualismo era um tabu, imagine uma transição completa de gênero. Einar ou
Lili (como ele passou a se chamar) foi considerado esquizofrênico se submento a
tratamentos como radiação, internações ou uso de remédios.
O contraste entre Gerda e Einar é além palpável, chega
a ser irônico. Gerda é independente, moderna, com o desejo de se estabelecer
como pintora. Ela deseja ardentemente por essa validação profissional e a
autonomia de sua carreira sempre à sombra do bem-sucedido marido, também
pintor. Einar, por outro lado, ao passo que assume gradualmente o seu alter-ego
feminino, é de uma postura tímida, recatada e discreta – tal qual uma moça da
época supostamente deveria ser.
O desenvolvimento deste projeto vinha se desenrolando
por anos, e Nicole Kidman estava escalada para viver Einar/Lili, além de
produzir o filme. Charlize Theron, Gwyneth Paltrow e Rachel Weisz foram algumas
das estrelas cotadas para viver Gerda antes que Vikander fosse escalada em
2014. A esta altura Tom Hooper já estava comprometido com a direção e Nicole se
afastando completamente da produção.
“A Garota Dinamarquesa” é um filme elegantemente
executado, elevado por uma trilha musical belíssima, uma fotografia exemplar e
com atuações de excelente nível. O que pesa contra a produção é que a história
está sendo vendida como uma cinebiografia, quando, na verdade, os fatos
mostrados no filme/livro diferente muito do que aconteceu realmente. Gerda na
verdade era bissexual e mantinha um casamento aberto com Einar. Ebershoff, o
autor do livro mudou tantos itens, que a obra é mais uma ficção usando
personagens que existiram de verdade do que uma biografia.
Entretanto, a
despeito das liberdades tomadas por Ebershoff e Tom Hopper (que também dirigiu
Redmayne em “Os Miseráveis”), “A Garota Dinamarquesa” é um filme atual e
necessário que fomenta a discussão sobre gêneros tão presente atualmente.
Confira o trailer aqui:
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